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A história de uma paciente de 16 anos, vítima de câncer de tireoide com metástase nos pulmões, emocionou milhões de espectadores que foram aos cinemas assistir ao filme norte-americano ”A culpa é das estrelas”, lançado no início de junho. A protagonista Hazel Grace, diagnosticada desde os 13 anos, anda com um cilindro de oxigênio e uma cânula no nariz para conseguir respirar devido à ramificação da doença para os pulmões. Ela conhece Augustus Waters, de 17 anos, que amputou uma das pernas em decorrência de um câncer nos ossos, e se encanta com o ânimo do rapaz para ignorar as tormentas da doença.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de tireoide é raro na maior parte da população mundial, representando entre 2% e 5% do total de câncer em mulheres e menos de 2% nos homens. Cerca de 300 mil novos casos (230 mil no sexo feminino e 68 mil no sexo masculino) foram apontados na última estatística mundial, de acordo com o Inca.

A tireoide é uma glândula do sistema endócrino responsável pela produção de hormônios que agem no controle de diversos órgãos do corpo humano. O consultor médico da Fundação do Câncer e oncologista clínico Celso Rotstein explica mais sobre o câncer de tireoide na entrevista a seguir.

Quais são os principais sintomas do câncer de tireoide?
A presença de nódulo na área central e inferior do pescoço deve ser motivo de atenção, principalmente quando a pessoa fez tratamento de radioterapia que tenha atingido a região ou quando há história de caso na família. A associação de nódulo a gânglios linfáticos aumentados e/ ou rouquidão também pode apontar para a possibilidade de tumor maligno.

Quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de tumores nessa glândula?
A exposição da tireoide à radiação ionizante na infância é o fator de risco mais associado a esse tipo de câncer. As radiações ionizantes são aquelas que alteram os íons do nosso organismo, seja por bomba atômica, seja por acidentes em usinas nucleares com vazamento de radiação para o meio externo ou em radioterapia. Crianças submetidas à radioterapia para tratamento de alguns tipos de tumores no timo, por exemplo, estão sujeitas a desenvolver a doença numa fase mais avançada da vida. É boato que exames de imagem como Raio-X e ultrassom possam causar tumores.

O câncer de tireóide é hereditário?
A hereditariedade é a causa de 30% dos carcinomas medulares, tipo de câncer de tireoide que representa apenas 5% dos casos.

Existe alguma forma de se prevenir?
Não há evidências estabelecidas sobre prevenção do tumor de tireoide. Hoje em dia o maior acesso a exames de imagem permite que sejam feitos mais diagnósticos de nódulos tireoidianos, cuja positividade para o diagnóstico de câncer deverá sempre ser confirmada pela biópsia.

Como é o tratamento?
A cirurgia (tireoidectomia) é a linha de frente do tratamento. Os pacientes podem ser submetidos à retirada total ou parcial da tireoide. A pessoa que remove completamente a tireoide precisará ser tratada com reposição hormonal contínua. Aqueles que após a cirurgia ainda têm doença residual ou mais agressiva poderão ser submetidos a um tratamento complementar com iodo radioativo. Quando a molécula de iodo é submetida a um processo que a deixa radioativa, ela tem a capacidade de ser captada por células doentes que possam ter restado e destruí-las.

Há risco de a pessoa ficar rouca após a cirurgia?
A rouquidão pode acontecer com qualquer doença que afeta a tireoide. Existe uma enervação próxima que pode ser afetada na cirurgia, mas é algo que acontece pouco. Por exemplo: se a doença é localmente avançada, a cirurgia, para ser ‘curativa’, deve ser mais radical e isso aumenta o seu risco, como em qualquer tratamento cirúrgico.

Como é o processo de recuperação pós-cirúrgica?
De modo geral, a recuperação da cirurgia da tireoide costuma ser tranquila, não requerendo muitos dias de internação.

O câncer de tireoide tem cura?
Sim, a doença tem, em média, 95% chances de cura, desde que diagnosticada precocemente e o paciente receba acompanhamento médico por pelo menos cinco anos após a retirada da glândula.

O risco estimado da incidência de câncer de tireoide é de 1 caso a cada 100 mil homens e 8 casos a cada 100 mil mulheres, em média, segundo estimativas do Inca para 2014. Por que o sexo feminino é muito mais suscetível do que o masculino?
Por enquanto, ainda não há uma explicação para a predominância desses tumores em mulheres.

Em que faixa etária a doença se manifesta com mais frequência?
Os tumores da tireoide aparecem, em sua maioria, em mulheres com idades entre 25 e 65 anos.

Quais são os riscos de um câncer de tireoide sofrer metástase?
Normalmente, a maior parte dos tumores da tireoide apresenta evolução lenta. Quando existe uma doença metastática da tireoide, isto é, quando o câncer se ramifica para outras partes do corpo, o pulmão é um dos órgãos mais afetados, como acontece com a personagem Hazel, de “A Culpa é das Estrelas”. Apenas 5% dos tumores malignos de tireoide, chamados de tumores anaplásicos ou indiferenciados, têm uma evolução muito rápida, com sobrevida média de 5 meses. É um percentual felizmente bem pequeno.

Segundo o último volume da publicação “Incidência de Câncer nos Cinco Continentes” (CURADO et al., 2007), as taxas de incidência da doença aumentaram mais de cinco vezes entre 1973 e 2002, mas a mortalidade apresentou queda continuada. O que explica esse cenário?
Ainda não se sabe o motivo do aumento do número de casos, mas a redução de óbitos é explicada pela melhoria nas condições de tratamento, aperfeiçoamento da cirurgia e tratamentos complementares e pós-cirúrgicos.

O câncer é curado com mais facilidade em jovens do que em pessoas de idade avançada?
As chances de cura não podem ser generalizadas por faixa etária. Existem determinados tipos de doença do sangue, como leucemias, mais frequentes nos jovens, que são altamente suscetíveis ao tratamento e têm vasto índice de cura. Mas também depende muito do estadiamento e do tipo de cada doença.

Tumores da tireoide são, em sua grande maioria, doenças de evolução lenta e que, hoje em dia, permitem intervenções curativas, seja pela ação da cirurgia isolada, seja pela combinação da cirurgia com outros tratamentos. Novos medicamentos vêm sendo utilizados com sucesso para o caso da doença já ter se espalhado para outros órgãos (metástases).

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